FAESP discute cenário atual e futuro da produção de açúcar e etanol
A Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) realizou, na manhã da última quarta-feira (18), reunião com os integrantes das Comissões Técnicas de Cana-de-açúcar e de Energia Renovável, com o objetivo de discutir os efeitos da crise hídrica e das geadas na safra 2021/2022. Realizado de forma on-line, o encontro contou com a participação de 18 pessoas, entre lideranças de Sindicatos Rural, técnicos do Sistema FAESP/SENAR e Diretoria da FAESP, abordou os índices de produtividade atuais, as estimativas futuras e os aspectos mercadológicos, além de pontos específicos dos CBIOs, os créditos de descarbonização concedidos aos produtores de biocombustíveis.
A reunião foi aberta por Adriana Menezes, 1ª secretária da FAESP, em nome do presidente da Federação, Fabio Meirelles. “Dou as boas-vindas aos presentes, que irão falar sobre as perspectivas da cadeia produtiva mais importante do Estado São Paulo, neste momento em que as ocorrências climáticas recentes têm atingido com muita intensidade o agro paulista. A FAESP está sempre disponível para ouvir as demandas dos produtores, uma vez que é este o nosso papel e a nossa missão”, declarou.
Gustavo Chavaglia, coordenador da Comissão Técnica da Cana de Açúcar da FAESP, destacou que a reunião teve por o objetivo principal trazer um panorama atual, avaliar as necessidades de cada região e de cada sindicato, dando atenção especial às demandas listadas na pauta da reunião. Na sequência, Claudio Brisolara, chefe do Departamento Econômico da FAESP, fez uma apresentação com dados recentes produzidos pela União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo – UNICA.
A análise da safra 2021/22 mostra que houve uma queda de 17,9% no rendimento agrícola na comparação com o período anterior. Na safra 2020/21, a produtividade foi de 89,9 toneladas por hectare colhido no mês, ante 73,7 t/ha na safra atual. Em relação ao impacto das geadas, tanto a produtividade da lavoura, quanto a qualidade da matéria-prima cultivada, sofreram com as geadas observadas nas últimas semanas na região centro-sul. Houve necessidade de colher as áreas atingidas pela geada, alterando de modo significativo o cronograma de colheita em várias unidades produtoras, com impacto estimado na produtividade de julho superior a cinco toneladas por hectare e piora na qualidade de cana de açúcar processada no mês.
A estimativa que incorpora esses efeitos na safra 2021/2022 calcula que sejam colhidos 592 milhões de toneladas, representando um volume de matéria-prima 9,5% menor em relação à safra anterior. O sudeste, que é a principal região produtora do país, mostra uma redução de 6,6% na área a ser colhida, totalizando 5.021,1 mil hectares, e decréscimo de 13,3% na produção, estimada em 371,5 milhões. Segundo o Coordenador Gustavo Chavaglia, a seca e as geadas impactarão também na rebrota da cana.
No que diz respeito à evolução do ATR, no acumulado desde o início da safra até 1º de agosto, o indicador de concentração de açúcares assinala 136,73 kg de ATR por tonelada de cana de açúcar, com aumento de 1,07% em relação ao valor da safra 2020/21. No mesmo período, a produção de açúcar alcançou 18,29 milhões de toneladas, ante 19,82 milhões de toneladas verificadas na mesma data do ciclo anterior. Por fim, a fabricação de etanol totalizou 13,11 bilhões de litros, sendo 5,28 bilhões de litros de etanol anidro e 8,83 bilhões de litros de etanol hidratado. Do total fabricado, 981,16 milhões de litros do biocombustível foram produzidos a partir do milho.
Falando sobre os problemas enfrentados pelos produtores, Chavaglia lembrou que esta é uma situação comum a todos no Estado de São Paulo. “Os dados mostram que a cana própria da usina tem quebrado até 20%, e a dos produtores em torno de 10%. Eu ficaria com a expectativa de uma quebra de 15% em média, já que as usinas têm praticamente metade de cana dos fornecedores e a outra metade de produção própria. A quebra do fornecedor é menor devido ao trato especial que ele tem”, avaliou, acrescentando que os estudos mostram que São Paulo é o estado que mais sofrerá impactos de quebra na safra de um modo geral.
Na sequência, os produtores falaram sobre os cenários atuais e esperados em suas respectivas regiões. Em algumas delas, as expectativas são ainda mais graves, como no caso de Bebedouro. “Em nossa região tivemos três geadas fortes e a quebra pode chegar a 40%. A produtividade, que no passado chegava a 90 t/ha está chegando a 40 t/ha”, relatou José Osvaldo Junqueira Franco, da região de Bebedouro. Para Nicolau de Souza Freitas, da região de Araraquara, a quebra deve ficar em 30%, mas para os demais produtores, a estimativa se manteve em torno de 15% a 20%.
CBIOS
Outro tópico debatido na reunião foi o CBIOS, os créditos de descarbonização. A legislação brasileira estabelece que os CBIOS são emitidos e comercializados pelas usinas, sem repasse proporcional dos créditos aos fornecedores. Como não é emissor, o fornecedor de cana de açúcar não pode comercializar os seus créditos e fica na dependência das usinas.
Atualmente, estão em discussão duas alternativas para este impasse. A primeira seria o repasse por meio do Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), como um bônus anual. A outra é o Projeto de Lei nº 3149/2020, do deputado Efraim Filho, que obriga o repasse proporcional dos valores apurados na comercialização dos CBIOs aos produtores independentes. Isso porque, passaria a incluir estes últimos como fornecedores de matéria-prima destinada à produção de biocombustível, o que, por força da Lei nº 13.576, lhes garante o direito às receitas oriundas dos CBIOs. “Existe uma divergência em relação ao modelo de pagamentos dos créditos. Temos que buscar o que é justo, qual é efetivamente a contribuição do fornecedor. A UNICA tem defendido a negociação individual, de modo que cada usina adote a melhor forma de acerto com seus fornecedores. Quanto ao Projeto de Lei, estaremos acompanhando para garantir que seja bem encaminhado. Uma discussão organizada é o caminho mais acertado para tentar garantir uma proteção aos produtores”, declarou Brisolara.
Venda direta de etanol
Por fim, mas não menos importante, também entrou na pauta a Medida Provisória nº 1063/21, de 11 de agosto de 2021, que autoriza a venda direta de etanol por produtores a postos de combustíveis, com o objetivo de melhorar a logística e dar mais competitividade ao setor. “Era uma reivindicação antiga da FAESP que as usinas vendessem seu produto diretamente. Nosso Departamento Econômico irá acompanhar de perto esse processo, cuja definição será fundamental para que possamos quebrar os paradigmas que vem ocorrendo. Eu acredito que haverá muito mais viabilidade de preços para o consumidor, ao mesmo tempo em que fortalecerá mais ainda a nossa commodity”, declarou Tirso Meirelles, vice-presidente da FAESP, encerrando a reunião.