Desenvolvimento rural exige novo sistema bom para o produtor

fernandomoraespronto1Fernando Moraes

Há muito tempo Ibiúna é conhecida como uma das cidades que mais fornece alimento para a capital paulista e diversas regiões do estado. A produção é invejável, gera R$ milhões todos os anos, porém um sistema viciado de distribuição faz com que a receita se concentre na mão de poucos. Para o setor agrícola conquistar o desenvolvimento rural, é preciso que o produtor se liberte deste sistema e reconstrua uma cadeia da qual ele seja o maior beneficiado.

Fortunas surgem no setor agrícola. Mas, basicamente, elas são formadas por quem distribui e vende, não por quem planta, colhe, depende de condições climáticas, sacrifica sua vida de sol a sol. Mesmo aqueles que conseguiram vencer na vida por meio da agricultura foram os que entenderam que era preciso saber distribuir e vender seus produtos.

Os que não conseguiram deixaram o campo e venderam sua terra para loteadores que, muito por culpa da ausência de políticas fundiárias eficazes, geraram pouca renda para o município.

Não cabe aqui julgar aqueles que, mesmo com pouca ou nenhuma tradição na roça, ganham dinheiro com a agricultura comprando de produtores e revendendo para grandes redes. Eles descobriram uma oportunidade, investiram nela, se especializaram e dominaram o mercado.

Se a culpa não é deles, então é de quem?

A culpa é da histórica falta de políticas públicas para o desenvolvimento rural em Ibiúna, sobretudo no que diz respeito à educação.

Já desmotivados em casa, no ensino fundamental e no médio a seguirem o “caminho da roça” como fonte de geração de renda, os jovens ibiunenses vão buscar outros caminhos profissionais. Saem do campo com a esperança de tentar sorte diferente na cidade e, depois de algum tempo, veem que não era bem assim e voltam sem perspectiva ou qualificação necessária.

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As famílias que compreenderam a cadeia produtiva, viram na agricultura um meio de sobreviver economicamente e investiram na educação de seus filhos para melhorar a capacidade técnica e expandir as possibilidades conseguiram evoluir. Sozinhas ou em grupos como associações e cooperativas.

São poucas as possibilidades públicas de ensino em Ibiúna que abrem os olhos do jovem para as possibilidades reais de uma carreira agrícola de sucesso. Isso faz com que os jovens estudem para brigar pelos empregos escassos em vez de abrirem a mente para o empreendedorismo na terra. Jogam fora todo seu conhecimento da terra, do local em que vivem, em troca de uma falsa promessa de sucesso longe do campo.

É preciso saber vender

Para que o jovem entenda este potencial que tem mãos e entenda que como agricultor ele poderá ter um futuro muito melhor do que teria em qualquer outro lugar, é necessário que ele entenda a cadeia produtiva em que está inserido e aprenda a vender.

Aliás, esta deve ser a cobrança deste jovem, do agricultor familiar, para os representantes públicos que ajudaram a eleger: “Oi, estamos cansados de produzir e não ver a cor do dinheiro que geramos para Ibiúna. Queremos aprender e cabe a vocês nos proporcionar instituições que nos ensinem”.

Na escola Roque Bastos, funciona a ETEC em Ibiúna, um importante centro de educação técnica que transforma estudantes em potenciais empreendedores na área rural. A parceria entre o Sindicato Rural de Ibiúna e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) é responsável por diversos cursos e eventos ao longo do ano que visam capacitar o agricultor. Outras entidades e iniciativas também promovem programas que avançam um pouco neste sentido também. Mas ainda é pouco.

É preciso que haja um grande movimento no sentido de libertar o agricultor de vez deste ciclo que o prejudica. Isso passa pela criação de políticas públicas que transformem esta cadeia produtiva. Isso passa por uma visão estratégica dos agentes públicos que vejam além da necessidade de consertar estradas na área rural. Passa pela efetiva cobrança dos agricultores aos representantes que escolheram. Passa pela mudança dos agricultores a respeito do perfil de representante público que deve eleger.

*Fernando Moraes é diretor da Acesso Livre Comunicação e presta serviços de comunicação para o Sindicato Rural de Ibiúna

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